terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Cacatua Verde


A Cacatua Verde” de Schnitzler é aparentemente uma peça histórica. A acção situa-se na noite de 13 para 14 de Julho de 1789 em Paris. Numa cave dos arredores de Paris, Prospère, um velho director de uma Companhia de Teatro, abriu uma taberna (A Cacatua Verde) onde a sua Companhia finge que não faz teatro, e cria a ilusão de uma verdadeira taberna de gente de mau porte, ladrões, pedintes, prostitutas, marginais, possibilitando aos nobres que a visitam a sensação, sem perigo, do contacto com o povo e com os episódios excitantes das suas violentas vidas. O processo complica-se quando, na noite da Revolução Francesa, a violência da realidade faz esquecer o processo de ilusão e a história que um dos actores inventou, que a sua mulher, também actriz, o trai sendo amante de um Duque, leva-o a assassinar o nobre seu rival. Seja a razão do crime verdade ou ficção, o crime acontece, mas a realidade da revolução faz com que o acto ciumento do actor se torne num acto de heroísmo na defesa do povo revolucionário e triunfante. E a alegria do “Viva a Liberdade!” é vivida pelo casal como o fim da sua felicidade.


A profunda ironia, própria de toda a obra de Schnitzler, torna a peça quase numa comédia em que o próprio teatro entra em jogo, antecipando os temas caros a Pirandello. Aqui a tensão entre sonho e realidade, ou ilusão e verdade, adquire uma dimensão especial e particularmente interessante pelo facto de a tensão entre ficção e realidade incluir também a tensão entre a História e as consciências individuais, e tocar a própria noção de responsabilidade política. A taberna é uma Cave, o que remete para a imagem da Caverna de Platão e o próprio facto de o taberneiro se chamar Prospére-Próspero remete para o processo ambíguo de “A Tempestade” de Shakespeare. Afinal como em Pirandello, a peça fala mais da vida que do teatro. Com a maior leveza e elegância, e num único acto de uma economia exemplar, Schnitzler desenha um teatro de sombras da própria Revolução, que é um prodígio de ironia na revelação da profunda complexidade do real.


A Cacatua Verde”, de ARTHUR SCHNITZLER, tradução de FREDERICO LOURENÇO e encenação de LUIS MIGUEL CINTRA, com ALICE MEDEIROS, ANTÓNIO FONSECA, CATARINA LACERDA, CLEIA ALMEIDA, DINIS GOMES, DUARTE GUIMARÃES, GONÇALO AMORIM, JOANA DE VERONA, JOÃO GROSSO, JOÃO VILLAS-BOAS, JOSÉ MANUEL MENDES, LUIS LIMA BARRETO, LUIS MIGUEL CINTRA, MIGUEL LOUREIRO, MIGUEL MELO, NEUSA DIAS,NUNO CASANOVAS, RICARDO AIBÉO, RITA BLANCO, RITA LOUREIRO, SOFIA MARQUES, TIAGO MANAIA, TIAGO MATIAS, TOBIAS MONTEIRO e VÍTOR D’ANDRADE.

co-produção TNDM II e TEATRO DA CORNUCÓPIA

Sala Garrett Teatro Nacional D. Maria II
17 de Fev a 27 de Mar 2011

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