Sobre o dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues, escreveu Gilberto Freyre: "Nelson Rodrigues avulta, na literatura actrual do Brasil, como o nosso maior teatrólogo. O maior de hoje e o maior de todos os tempos. pode ser consideradoo um equivalente, nesse sector, do Eugene O'Neill: do que foi O'Neill na literatura dos EUA." Este nome maior do moderno teatro brasileiro tem algumas das suas obras de referência incluidas no ciclo 'Nelson Rodrigues' que está a ser apresentado no Teatro Nacional de S. João por companhias brasileiras, integrando a programação de artes cénicas do Ano do Brasil em Portugal.
O ciclo começa com a primeira obra de Nelson Rodrigues 'A Mulher sem Pecado' escrita em 1941 numa altura em que a necessidade imperiosa de ganhar dinheiro o levou a pensar em escrever uma comédia, projecto que rapidamente se transformou num drama em três actos. Com encenação de Kalluh Araújo, o espetáculo da Companhia Arlecchino de Teatro instala-nos num cenário sinistro que faz lembrar as gravuras de M.C. Escher, com as suas escadarias que não levam a lado algum, para nos dar conta dos labirintos da neurose humana que Nelson Rodrigues soube recriar. Dias 10 e 11 de Maio.
'Valsa nº6', segunda peça deste ciclo, monólogo escrito em 1951, será apresentado nos dias 14 e 15 de Maio, na mesma sala, pela actriz Luisa Thiré, cuja prestação foi aclamada como “uma das performances mais marcantes da temporada” , com encenação de Cláudio Torres Gonzaga.
No ano do centenário do dramaturgo, o encenador Eduardo Wotzik remontou a peça 'Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas Ordinária' com o mesmo elenco da montagem que fizera vinte anos antes. A tragédia de costumes é baseada no personagem Edgar, um homem em crise que, através de suas projecções, cria situações que oscilam entre a angústia profunda e o patético carregado de humor. Nos dias 17 e 18 de Maio.
O ciclo prossegue com uma das obras mais emblemáticas do autor: 'Toda a Nudez será Castigada', nos dias 22 e 23 de Maio, um flashback, no qual a ação evolui fragmentariamente: estilhaços da memória de Herculano, um viúvo puritano, condenado ao “papai-mamãe de luz apagada”, cujos demónios interiores são subitamente acordados por uma prostituta movida pelo instinto, que vive na inabalável certeza de que morrerá de cancro – “uma ferida no seio”. Uma produção da Armazém Companhia de Teatro com encenação de Paulo de Moraes.
As peças 'A Serpente' e 'Vestido de Noiva' completam o ciclo dedicado a Nelson Rodrigues.
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