Para comemorar os 40 anos de carreira, a actriz Sura Berditchevsky fez o espetáculo Cartas de Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade. A peça retrata o relacionamento entre o poeta modernista brasileiro e a sua filha única. Maria Julieta tinha apenas cinco anos de idade quando iniciou uma troca de cartas com o pai, desencadeando uma profunda e intensa cumplicidade. “Julieta e Drummond estabeleceram uma relação de amor, respeito, ética, companheirismo, afinidade intelectual através da literatura”, diz Sura Berditchevsky, que além de actuar, assina a concepção e encenação do espectáculo. Luis Fernando Philbert é o corresponsável pela encenação e Pedro Drummond assina com Sura a pesquisa da correspondência e a idealização do projecto.
Nos dias 3 e 4 de Novembro é a vez da apresentação do texto de Lolita Pille, Hell, com interpretação de Bárbara Paz e Paulo Azevedo.
Aos 21 anos, a escritora cool-trash Lolita Pille publicou um romance intitulado Hell, que rapidamente se tornou um campeão de vendas em França e, logo depois, um fenómeno editorial em múltiplas línguas e países. Não admira: de todas as obras literárias que exploram o desregrado e degradante modo de vida de jovens com pais milionários – sexo, vodca, cocaína, roupas de marca, entre outros regalos –, Hell parece não apenas uma das mais lúcidas, mas também uma das mais verdadeiras, renunciando a desculpas moralizantes e a justificações sociológicas. O realizador Héctor Babenco e o encenador Marco Antônio Braz seguiram o impulso de adaptar este misto de romance e relato confessional para o palco, trabalho de que resultou um espetáculo implacável, concebido para revelar a irresistível espiral de autodestruição da protagonista, interpretada pela atriz Bárbara Paz. A reputada crítica brasileira Bárbara Heliodora não hesitou em assinalar no jornal O Globo: “Hell é um espetáculo de alta categoria, que honra o teatro como instrumento de conhecimento de nós mesmos”.
Finalmente, nos dias 8, 9, 10 e 11 de Novembro, a Companhia Ensaio Aberto, do Rio de Janeiro, apresenta Missa dos Quilombos.
Um elenco de 21 actores e oito músicos dá corpo a uma das obras mais emblemáticas de Milton Nascimento: Missa dos Quilombos. Uma obra histórica, com textos do arcebispo Pedro Casaldáliga e do poeta Pedro Tierra, estreada em 1981 e revisitada nos últimos dez anos pela Companhia Ensaio Aberto, uma estrutura carioca de forte vocação crítica e política. Missa dos Quilombos instala-nos numa central elétrica com várias dezenas de máquinas diferentes, de um singelo moinho a uma turbina de avião, trazendo para a linha da frente a história dos negros no Brasil. Adoptando a estrutura padrão de uma missa, o espetáculo cruza o ritual católico e expressões da cultura afro-brasileira, numa sinestésica fusão de sons, cores, danças e ritmos. Com direção de Luiz Fernando Lobo, esta “missa revolucionária” canta uma história de opressão, mas também uma esperança indómita e um desejo imenso de liberdade.
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