Estreou no dia 14 de Agosto e estará em cena até 28 de Setembro, LAS TROYANAS, de Eurípides, na versão de Ramón Irigoyen e encenação de Mario Gas, no matadero - las naves del español, em Madrid.
Las Troyanas, uma das mais emocionantes tragédias clássicas, abriu a programação da 54ª edição do Festival de Mérida.
Os séculos passam, - explica Mario Gas- os conflitos permanecem. O tempo nunca cessa, mas a condição humana parece não mudar, parece não aprender, não amadurece; frequentemente continua emboscada perseguindo sonhos de poder, violência e dominação; frequentemente engana para conseguir os seus propósitos; frequentemente.
Dir-se-ía que nem as regras não escritas de qualquer guerra, em qualquer rincão do mundo, em qualquer momento ao longo da história mudaram substancialmente: o vencedor não sentirá piedade perante o vencido; os filhos dos que sobrevirem serão humilhados e exterminados; não haverá respeito pelos deuses dos derrotados; não haverá compaixão para as mulheres do lado perdedor; a vitória será na realidade mais amarga que doce, porque as guerras não terminam de todo. Os vencedores deixam-se levar por uma sede insaciável de vingança e crueldade. E talvez o preço por ter ganho seja o princípio da derrota. Por outro lado, como diria Brecht, o povo simples do vencedor também ganha a guerra?
Definitivamente, falamos da humanidade, das elites, dos que sofrem a guerra, e fazemo-lo através das cicatrizes, melhor das feridas abertas que a guerra deixa atrás de si. E falamos pela boca de Eurípides e Las troyanas; um texto duro, amargo, beligerante, piedoso e profundo, surgido da experiencia do autor na guerra do Peloponeso que, lamentavelmente não perdeu actualidade apesar dos séculos passados. Um texto de raivosa contemporaneidade, tanto pela sua estrutura dramática como pela sua contundência temática.
O dia depois da guerra, o dia em que as mulheres, eternas perdedoras em cada batalha, deixam de ser livres para ser escravas nas mãos do vencedor. Perderam seus maridos e seus filhos no combate e agora são a pilhagem da guerra de um invasor dizimado por dez anos de cerco. Um invasor que iniciou uma guerra talvez por outros motivos diferentes dos abertamente confessados e que venceram graças a um ignóbil estratagema.
Matadero - Las naves del Español
Paseo de la Chopera, 14
Madrid
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