sábado, 26 de janeiro de 2008

Brecht pelo Teatrão


Termina amanhã, dia 27 de Janeiro, em Coimbra a apresentação de O Círculo de Giz Caucasiano, produção de 2007 de O Teatrão, com encenação de Marco António Rodrigues, encenador brasileiro que já trabalhou com o grupo e que apresentou no FITEI de 2006 Otelo, que dirigiu na companhia de S. Paulo Folias d’Arte.

O Círculo de Giz Caucasiano é uma peça escrita em 1943/1945, quando Brecht, na América do Norte, via cheio de esperanças, os primeiros sinais de Hitler a vergar os joelhos. Esta é, portanto, no nosso entender, uma peça solar, uma ‘comédia’ luminosa. É o alívio do pândego, dos sem vintém, dos que, uma vez tudo perdido, face à terra arrasada por Hitler et caterva, nada mais têm a perder. Passada a ameaça da besta-fera, preservada a vida, para quê chorar sobre os escombros?! O trabalho de reconstrução vai demandar tempo, energia, poesia e sobretudo bom-humor.É uma peça dentro da peça “uma velha lenda chinesa representada com bonecos, máscaras e músicas” logo alerta o narrador ao final do prólogo. Enfim, uma brincadeira de actores, mímicos, bufos, saltimbancos, acrobatas, a representar bêbados, mendigos, salteadores, prostitutas, falhados, lavradores, lumpens e afins, os ventados da história, a imaginar, a magicar, qual poderia ser o melhor cultivo da terra que está exausta e espera à sua frente, daí para adiante. Ninguém pode saber, pode apenas imaginar, espreitar o que de melhor há a plantar, porque pura e simplesmente a colheita está no futuro e o futuro é um tempo inumano, o tempo que ainda não existe. Mas é justamente naquela falha da história, naquela brecha que se abriu por conta dos incêndios, das catástrofes, das guerras, que se instala o momento das mágicos e do refazimento.

Marco António Rodrigues, no Programa da peça.

Brecht escreveu O Círculo de Giz Caucasiano entre 1943/45, no final da Segunda Guerra Mundial, durante o seu exílio nos EUA. Nesta obra, o dramaturgo coloca, em forma de prólogo, uma discussão entre dois grupos de russos, em torno dos direitos sobre uma propriedade a que voltam após o afastamento das forças nazis. A questão, posteriormente desenvolvida na acção principal da peça, centra-se em saber sobre que princípio deve o caso ser estabelecido? Para isso, Brecht constrói uma fábula, de inspiração oriental. Durante a guerra civil, o filho do governador é abandonado pela sua mãe e criado por uma ajudante de cozinha, Gruscha. À semelhança de Shen-Té (A Boa Alma de Tsé –Chuan), Gruscha é levada a praticar acções erradas por necessidade. Por causa da criança, foge e acede a casar-se com um pretenso moribundo. Este, depois do casamento, volta à vida e quando o noivo de Gruscha retorna da guerra, encontra-a casada e, aparentemente, mãe. Gruscha não tem oportunidade de explicar o sucedido e tudo aquilo que fez por “bons motivos” acaba por ser mau para ela, bom para o menino. Na segunda parte, Brecht apresenta-nos Azdak, um trapaceiro que, pelas vicissitudes da guerra se torna juiz. Realiza os julgamentos num tempo de desordem, favorecendo os explorados. Mas a ordem é restabelecida e Azdak, que continua Juiz, tem de julgar o caso de Gruscha, acusada pela mulher do governador de ter roubado o seu filho. Azdak recorre à prova do círculo de giz para identificar a mãe. Gruscha desiste de puxar para si a criança e Azdak encontra nela a mãe verdadeira. Acaba ainda por divorciá-la para que fique livre.

Círculo de Giz Caucasiano

de Bertold Brecht

Encenação Marco Antonio Rodrigues

Interpretação Adriana Campos, Cláudia Carvalho, Filipe da Costa, Filipe de Góis, Inês Mourão, Isabel Craveiro, João Castro Gomes, Margarida Sousa, Mariana Nunes, Pedro Lamas, Ricardo Brito e Rosa Marques


O Teatrão - Museu dos Transportes – Coimbra

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