A temporada de ALZIRA POWER na Casa da Gavea, Rio de Janeiro, está a chegar ao final. O espetáculo está em cartaz até dia 6 de Julho. A companhia inicia depois a digressão pelo Brasil.
Escrita em 1969 por António Bivar, sucesso de público e crítica no início dos anos 70, vencedor do Prémio Molière de Melhor Texto, em 1969, a divertida comédia “Alzira Power” (O Cão Siamês é o título original) traz à tona a incomunicabilidade, a solidão, o sexo, a violência, tudo temperado com muito humor.
Alzira (Cristina Pereira) é uma mulher sensacional, embora desbocada e agressiva. O facto de ter perdido seu cão siamês é a desculpa que usa para deflorar sua condição actual, uma funcionária pública aposentada, culta mas solitária, encarando com a rebeldia dos que se recusam a se enquadrar mansamente nos parâmetros medíocres de uma vidinha classe média. É com a desculpa da perda do cão que Alzira consegue atrair para seu apartamento o jovem Ernesto (Sidney Sampaio), um vendedor que bate à sua porta. O rapaz, casado e com filhos, revela-se uma pessoa sem sonhos, conformado com sua vida modesta e sem perspectivas. Inicialmente humilhado, Ernesto é quase levado ao desespero pelas tantas perguntas que a insatisfeita Alzira o aflige. Para sair desta enrascada Ernesto terá que seduzir Alzira. O encontro entre figuras tão díspares produz um terramoto: o anarquismo sensorial de Alzira triunfa, massacrando a canhestra racionalidade de Ernesto. O que segue são vários rounds, em que as personagens se alternam no controle da situação.
A montagem original “O Cão Siamês” foi em São Paulo, em 1969, no Teatro Ruth Escobar, com direção de Emílio Di Biasi. A primeira actriz a encarnar Alzira foi Yolanda Cardoso, ao lado de António Fagundes – sua estreia nos palcos, com 21 anos –, o primeiro Ernesto. No ano seguinte, 1970, é retrabalhada para uma versão carioca intitulada “Alzira Power”, dirigida por António Abujamra, para a qual o actor Marcelo Picchi assume o papel que foi de Fagundes. A peça alcança enorme sucesso de público e crítica, e Yolanda Cardoso ganha todos os prémios de melhor actriz, tanto no Rio como em São Paulo. Na época, peça foi percebida pelo público como uma pregação de liberdade, e convocação a que a juventude largasse do terno e da gravata. Sobre o espectáculo, o diretor Gustavo Paso diz: “Estas figuras de mentalidades opostas vivem divertidíssimo confronto de ideias e desejos, absurdo e tragicómico, desafiando, com muito humor, o público a afirmar que neste país não há alguém que não conheça uma Alzira. Bivar maneja muito bem os recursos do humor e da fantasia, mergulhando profundamente na alma de uma mulher romântica e, ao mesmo tempo, dominadora. Alzira é um libelo de uma sociedade tacanha.” E completa: “A trilha sonora de Caique Botkay traz a atmosfera de uma época recente e extremamente atraente, os anos 70 que deram o que falar.”A actriz Cristina Pereira, que interpreta o personagem Alzira, declara: “Alzira Power é uma metáfora do desejo de liberdade de expressão. É uma comédia perigosa. Ela foi escrita numa época em que as pessoas tinham tanta coisa na cabeça que as ideias formavam um turbilhão. A ambientação continua a mesma, final dos anos 60 e início dos 70, com a trilha sonora contextualizando esse período. A peça continua actual, contemporânea. É a história de uma mulher aposentada dos Correios e Telégrafos que deixa a porta do seu apartamento aberta até a entrada de um corretor de automóveis, vivido pelo Sidney Sampaio, querendo vender um fusca. Alzira tranca a porta, joga a chave pela janela e daí acontece um sequestro “erótico - político”, com situações loucas, muito engraçadas, mas também muito dramáticas entre essas personagens igualmente antagonistas.”
Não se tem notícia de outra montagem profissional desta peça no Rio de Janeiro, depois da assinada por Abujamra em 1970.
Críticas:
"A verdadeira guerra verbal que é o diálogo entre os dois personagens Ernesto e Alzira,
possui um ritmo que só acontece quando é regido por um bom texto, e um bom director.
Em consequência, Pereira e Sampaio nos dão primorosos tempos de comédia.
O director Gustavo Paso entra em afinação com seus atores.
Paso, excelente director, destacou-se entre outros, com Ariano, uma homenagem à Suassuna."
Ida Vicenzia, crítica do Jornal do Commércio / 30 de Maio de 2008
"O director conduz a dupla de atores sob um enquadramento realista (...)
há algo de absurdo que se avizinha da ambigüidade e do inesperado (...)
que desse modo retira da narrativa o que melhor a sustenta."
Macksen Luiz, crítico do Jornal do Brasil / 29 de Maio de 2008
"É um prazer constatar que a insanidade verborragica de Alzira Power continua viva, divertida e relevante, após quatro décadas (...) A direção de Gustavo Paso é orientada pelo tom de Bivar e explora bem a luta pelo poder entre Alzira e Ernesto, tudo sempre em uma calculada dimensão do real, de modo a aproveitar bem o que o texto oferece."
Bárbara Heliodora, crítica do O Globo / 28 de maio de 2008
"O Director impõe à cena uma velocidade vertiginosa."
Lionel Fischer, crítico da Tribuna da Imprensa / 27 de Maio de 2008
Alzira Power [Prêmio Molière de Melhor Texto, 1969]
com Cristina Pereira e Sidney Sampaio
Texto de Antônio Bivar
Direção Musical de Caique Botkay
Cenografia e figurinos de Teca Fichinsk
Iluminação de Paulo David Gusmão
Produção Luciana Fávero
Direção de Gustavo Paso
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3 comentários:
Amigos,
ficamos surpresos em ter a materia de nossa peça no BLOG do FITEI... gostaríamos de conhecer os autores e os propositos da materia... nós nos inscrevemos já há alguns anos para poder participar do festival, mas não obtivemos a alegria de participar...
grato pela atenção
Amigo Paso,o blog do FITEI publica informação diversa sobre companhias de artes cénicas do universo de expressão ibérica. Essas informações chegam-nos das mais variadas formas, normalmente por e-mail, enviadas directamente pelas companhias ou por outras pessoas ligadas ao projecto ou através dos diversos amigos que o FITEI tem espalhados um pouco por todo o mundo.
O propósito do blog é apenas a divulgação das actividades das diversas companhias, tenham ou não alguma vez participado no FITEI.
Sobre a participação no festival, sugerimos uma visita ao site oficial do FITEI, onde estão todas as informações.
Boa tarde pessoal, fiquei gratamente surpresa de achar na internet este blog, e a notícia da apresentação de Alzira Power no FITEI. Em 1980, época do III FITEI, tivemos a alegria de participar representando o Brasil deste prestigioso Festival, exatamente com a mesma peça, Alzira Power de Antonio Bivar, dirigida pelo nosso querido e saudoso Oraci Gemba. As fotos estão inclusive no site do FITEI, e na minha biografia do Facebook. Fico contente em ver que a peça continua vigente e vigorosa! Um abraço, desde Porto Alegre, Lota Moncada
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