quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
'Dimas e Gestas' | Um musical para crucificados
De 20 de Janeiro a 18 de Fevereiro, no Teatro Helena Sá e Costa.
Dimas, o bom ladrão, e Gestas, o mau ladrão, aguardam a chegada de um terceiro elemento que se adivinha que virá pois há um espaço livre entre as cruzes onde os dois estão crucificados. Enquanto aguardam, as personagens vagueiam pelas memórias da sua vida, pelas opções que tomaram e pelas oportunidades que perderam. Afinal como chegaram ao Gólgota?
Segundo o evangelho de Lucas, Cristo foi crucificado no meio de dois ladrões ou malfeitores: “E também conduziram outros dois, que eram malfeitores, para com ele serem mortos.
E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. […] E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós.
Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?
E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez.
E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.
E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.”
Mas será que esta é a verdadeira historia? Claro que não. À luz das mais recentes evoluções da psicologia forense acreditamos que Dimas era na verdade um malandro, bem disposto é certo, um bom malandro, mas não seguramente um bom ladrão. Era um pintas. Um mentiroso compulsivo.
Aliás, quem senão um oportunista diria a Cristo: - “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino” Já o pobre do Gestas mais não era que um pai de família que fruto de um desemprego prolongando e da perseguição da usura a que foi obrigado a recorrer, mais solução não teve que enveredar pela profissão e ladrão. Ladrão de pouca monta, ladrão de pão. Não foi blasfémia, foi suplica sentida: - “Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós.”
Texto e encenação de Ricardo Alves.
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