O Teatro da Terra propõe para o verão de 2012 a sua maior produção da temporada com a peça CHÃO DE ÁGUA de João Monge.
O desafio lançado ao escritor e letrista entrelaça as vivências do povo alentejano no afogamento de territórios ancestrais, com a tragédia de um outro povo: o de Troia e de AS TROIANAS de Eurípides. Este clássico da tragédia grega serve de matriz ao paralelismo entre o desenraizamento provocado pela deslocalização compulsiva das populações dos seus territórios - a pretexto da construção de barragens e de um questionável desenvolvimento económico, o nosso cavalo de Tróia, esquecido do impacto social de tais empreendimentos – e a solidão revoltada das mulheres troianas quando a guerra lhes rouba os seus homens. A abordagem que propomos centra-se no teatro épico, onde as intervenções do coro - em Cante Alentejano com letras originais e interpretado por mulheres - pontuam a narrativa como um transmissor referencial e metafórico, exultando o espectador a desenvolver uma consciência social interventiva, na medida em que os valores que regem o mundo podem e devem ser modificados. O enredo desenvolve-se sem obedecer a um encadeamento linear cronológico das cenas, misturando presente e passado, deixando claro que aquilo é teatro e não a realidade propiciando ao espectador o conforto do distanciamento analítico. Um dos grandes textos da literatura da Antiguidade Clássica, AS TROIANAS, fala-nos da impotência humana, tendo por fundo a incendiada cidade de Tróia. O enredo começa com as mulheres escravizadas esperando para embarcar nos navios que levam os guerreiros gregos de volta para suas casas, depois do massacre generalizado dos troianos. João Monge pega neste dilacerante drama grego e transporta-o para os nossos dias criando uma analogia revitalizante de exaltação da saudade pela voz das alentejanas no seu êxodo forçado.
“ … Eu que fui arrancada à casa como um animal que sorte será a minha?... … As casas ainda respiram, que eu bem vejo As ruas ainda respiram que eu bem vejo O templo ainda respira, que eu bem vejo Os nossos antepassados ainda respiram que eu bem vejo, que eu bem vejo Ou finjo que vejo…ou finjo que vejo Não há luto que cubra tanta dor…” Chão de Água, João Monge
CHÃO DE ÁGUA é uma grande parábola sobre a vida e a morte, uma epopeia dedicada ao povo alentejano, mesclada com referências da vida contemporânea de fácil reconhecimento, numa composição teatral dramaturgicamente expressiva, com o intuito de potenciar uma visão critica abrangente.
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