“Agatha” de Marguerite Duras é a nova produção da companhia portuense ASSéDIO, em cena no seu espaço, agora inaugurado como sala de espectáculos, em Miragaia, no centro histórico do Porto. Com tradução de Alexandra Moreira da Silva, encenação de Rosa Quiroga, espaço e figurinos de Sissa Afonso, luz de Nuno Meira, sonoplastia de Francisco Leal e interpretação de Constança Carvalho Homem e Pedro Frias, a peça pode ser vista até ao próximo dia 16 de Dezembro.
Uma casa à beira-mar. Um homem e uma mulher. Uma luz de inverno. É neste cenário profundamente durasiano que a viagem ao passado destas duas personagens se inicia. Ao fundo, o espectro de uma separação anunciada. O recurso à memória convoca um tempo interior repleto de silêncios, de ausências, de palavras e vozes desfeitas. Trata-se de contar a história a dois. O amor e a sua evidente impossibilidade. Contudo, o desejo suspenso, ameaçador, contraria a ambiguidade do discurso. Perdidos e simultaneamente expostos, dois corpos em ruínas seguram o passado através de múltiplos movimentos interiores e íntimos, evocam o futuro incerto, exorcizam o presente – essa perda indizível da plenitude original. Trata-se de contar a história a dois. E talvez a ausência dessa história. Como sempre, em Duras, “aparentemente, não se diz nada, a não ser o nada que existe em todas as palavras”.
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