Manuel Guede Oliva volta a encenar na Companhia de Teatro de Braga. Desta vez é o texto de Dusan Kovacevic “O Profissional”, em cena até 5 de Dezembro, no Theatro Circo, em Braga, com interpretação de Carlos Feio, Jaime Soares, Rui Madeira e Teresa Chaves.
"Um texto, quase diríamos, autobiográfico, de um dramaturgo e guionista, (são dele alguns guiões de filmes de Kusturica), praticamente desconhecido entre nós. Um policial negro e político, inscrito nos anos de tragédia balcânica. Profunda e dramática história de vidas, num contexto de advento de democracia, onde os traumas de uma sociedade e de um regime estiolam por dentro de cada um e o que chega à superfície, ao quotidiano, (só aparentemente estranha e sem nexo) são estilhaços que há muito perderam a possibilidade de se reagrupar e formar um todo coerente. É exactamente nesta ideia de sequências desgarradas, construídas com ritmos e música de palavras, com olhares, risos e também traições, escutas, prisões, violações e abusos, que se mostra um mosaico que integra hoje esta Europa. Coisas que nos estão, afinal, ainda próximas, mas já aparentemente distantes. Como se a Vida fosse algo construído com um princípio, meio e Fim. Um jornalista, jovem estudante contestatário, hoje editor; um escritor à “procura” do editor e que, contas feitas e discussões havidas, quer afinal editar o resultado de anos e anos de pesquisa conduzida, enquanto polícia secreto (agora sem emprego) sobre esse tal editor. A vida passada a pente fino antes e depois da queda do regime. A democracia não garante a intimidade e a vida privada".
- Rui Madeira
"Somos moitos os que compartimos, co poeta Humberto Saba, a certeza de que o humor é a máis alta forma da cortesía.
Desde esa convicción, con esa arquitectura, “O profesional” de Dusan Kovacevic é un texto atravesado pola civilidade, por esa delgadísima liña na que o ser humano foi aprendendo a construírse no respeto ao outro, nos valores do diálogo, na asunción da alteridade. E isto, proclamado desde o corazón de Belgrado, nas paisaxes desoladas da vella Iugoslavia destruída é unha lección moral de radical magnitude.
En “O profesional” comparece a cómica tristeza dos que un día se quedaron sen patria, ¿ou sería conveniente invertir esta orde e precisar que é máis ben a comedia triste daqueles aos que a Historia lles roubou a súa historia persoal? Sexa como for, o que Kovasevic non está disposto a negociar é a risa, a ironía, o sarcasmo, os espellos grotescos que retratan a fin dun século XX que se pecha en Europa exactamente igual que se inaugurou, como unha terrible maldición: sangrando polas cicatrices dos Balcáns.
Pero Kovasevic, lúcido notario deste tempo, militante dun escepticismo luminoso, sabe ben que por riba de todo o que ningunha sociedade debe de perder nunca é a súa capacidade para rir. Porque, finalmente, a risa é a arma máis poderosa contra a iniquidade, a vileza, a ignominia; é o fracaso da represión.
Por iso “O Profesional” é, sobre todas as cousas, unha risotada triste, unha gargallada áspera na beira do abismo contra a crueldade de certos destinos. ¿Acaso os nosos…?"
- Manuel Guede Oliva
Manuel Guede Oliva, nascido na Venezuela mas há muito radicado na Galiza, onde foi director do Centro Dramático Galego, já tinha dirigido na companhia de Braga “Algumas Polaróides Explícitas” de Mark Ravenhill.
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