domingo, 13 de junho de 2010

Howard Barker nas Boas Raparigas... com tradução de Paulo Eduardo de Carvalho


A companhia teatral 'As boas raparigas...' apresentam MULHERES PROFUNDAS / ANIMAIS SUPERFICIAIS, de Howard Barker, numa tradução de Paulo Eduardo de Carvalho.

Duas mulheres. Um cão mecânico. Depois de uma mudança, uma revolução, uma guerra.
Estas duas mulheres estão num espaço queimado, onde toda a vida desapareceu.
Card era criada de Strassa antes desta ‘alteração’.
A antiga criada veste traje rigoroso. A antiga senhora em roupas rasgadas, destruídas pela mudança.
Agora que as relações de poder foram varridas, o desejo pode aparecer. O desejo do marido de Card (existe ele?) por Strassa pode reconhecer-se e tornar-se o centro da relação delas.
Aos pés de ambas um cão mecânico. Ele ladra, ele mia, ele levanta uma pata, ele sai, ele entra, ele prende e leva peças de roupa.
Card e o cão tornam-se os advogados do marido junto de Strassa.
Card pelas suas palavras, o cão pelos seus movimentos, pedem a Strassa que se encontre o marido.

Mas não é o desejo secreto entre as duas mulheres que é o centro deste texto? Não é a descrição de um mundo de onde os homens teriam desaparecido?


Howard Barker que refuta fazer um teatro político aborda a política por esta revisitação dos benefícios do poder nas relações criada-senhor que já foram abordados no teatro clássico e que passam aqui pela possessão do corpo. Ele aborda igualmente o erotismo sádico e a sua interdependência com uma sociedade regulamentar e hierarquizada segundo a análise de Michel Foucault. Por algures, nesse opus, onde se situa a realidade? Não nos encontramos numa cerimónia ritual à maneira de Jean Genet em "As criadas" ou mais prosaicamente num jogo de papéis catárticos em redor de um cenário erótico funesto? O cão mecânico, muito evidentemente um emissário do desejo do homem invisível, já não será um cão, mas o simétrico do pássaro autómato de "Casanova" de Fellini, símbolo da realização sexual masculina? Não ataca Howard Barker o mito do sexo?

Até 4 de Julho, no Estúdio Zero, com interpretação de Carla Miranda, Maria do Céu Ribeiro e Miguel Eloy. A encenação é de Rogério de Carvalho.

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